Posso usar o andador!? Ou é correr atrás do prejuízo?

Desde o início de 2013, a Sociedade Brasileira de Pediatria realiza um amplo movimento para banir o uso dos andadores, exigindo providências das autoridades e divulgando para as famílias que são equipamentos perigosos e desnecessários.

Apesar de ainda muito popular no Brasil, para bebês de 6 a 15 meses, o andador não é recomendado pelos pediatras.

Os pais alegam alguns motivos para colocar o bebê no andador. Dizem que ele dá mais segurança às crianças (evitando quedas), mais independência (pela maior mobilidade), promove o desenvolvimento (auxiliando no treinamento da marcha), o exercício físico (também pela maior mobilidade), deixam os bebês extremamente faceiros e, sobretudo, mais fáceis de cuidar.

A literatura científica tem colocado por terra todas estas teses. A ideia de que o andador é seguro é a mais errada delas.

#1. Quais os riscos de se utilizar o andador?

Segundo a ANEC (Aliança para Segurança Infantil da Europa, em tradução literal), os andadores estão associados a mais danos do que qualquer outro equipamento infantil, causando um número inaceitavelmente alto de quedas graves, queimaduras, intoxicações e afogamentos.

A base de dados européia de acidentes mostra que 90% dos danos causados por andadores são danos na cabeça, com 31% deles levando a lesão no cérebro e 35% causando lesão no crânio.

Pesquisa realizada no País de Gales apontou que 25% das internações hospitalares por queimaduras ou escaldaduras ocorreram enquanto a criança utilizava um andador.

#2. Mas eu sempre fico por perto! Posso ficar tranquila?

Com um andador, uma criança anda descontroladamente pela casa numa velocidade de até 1 metro por segundo. Com essa velocidade, a criança é capaz de atravessar um cômodo antes que um adulto possa tomar qualquer medida para evitar uma queda, por exemplo.

Em um estudo norte-americano, 78% das crianças que sofreram um acidente com andador estavam sendo supervisionadas quando ele aconteceu.

Acredita-se que as quedas com andador são mais graves devido à maior energia cinética e ao fato da criança tender a ficar dentro do andador enquanto cai, com a cabeça exposta.

No Brasil, este risco é ainda mais sério, pois não existe regulamentação para os andadores infantis. Em função do crescente número de relatos de acidentes de consumo com andadores, o Inmetro decidiu pela realização da análise utilizando os criterios adotados pela União Européia.

Todas as marcas testadas foram reprovadas. Veja a matéria aqui.

E não é só a falta de regulamentação do equipamento que causa apreensão. Fato curioso, vários estudos mostram que acidentes provocados por andadores não impedem os pais de continuarem utilizando-o com a criança ou com os futuros irmãos.

Em um estudo, 32% dos pais disseram ter utilizado o andador de novo depois de um acidente ter acontecido e 59% deles disseram que sabiam dos perigos do andador antes do acidente acontecer.

Portanto, o acesso à informação não parece ser suficiente para a prevenção eficaz de acidentes.

#3. Então, o que pode ser feito?

Considerando todos esses dados, vê-se a necessidade de que seja criado um dispositivo legal que impeça a continuidade desse risco para todas as crianças brasileiras.

Com esse objetivo, foi criado o Projeto de Lei 4926/2013, que, em sintonia com a posição oficial da Sociedade Brasileira de Pediatria, determina que fique expressamente proibida a fabricação, venda e utilização de andadores infantis em todo o território nacional.

Enquanto esse projeto não é sancionado, continuamos contando com a colaboração dos pais, no sentido de não expor os bebês a um produto perigoso e absolutamente desnecessário.

Fontes:

1. Sociedade Brasileira de Pediatria – Andador: perigoso e desnecessário.

2. ANEC – Baby Walkers

3. American Academy of Pediatrics – Injuries Associated With Infant Walkers

André Botinha

André Botinha

Pediatra especializado nos primeiros 1000 dias de vida, incluindo a gestação e os 2 primeiros anos.

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