Febre Maculosa: entenda a doença e previna-se

Nos últimos 10 anos, quatro casos de Febre Maculosa foram confirmados em Belo Horizonte.

No Parque Ecológico da Pampulha foram detectadas capivaras infectadas pela bactéria causadora da doença em 2014 e a região recebeu atenção especial por parte dos órgãos públicos.

No mesmo ano, a Prefeitura de Belo Horizonte promoveu a retirada de capivaras da Orla da Lagoa como medida de controle a proliferação de carrapatos. Porém, em cativeiro, mais de 70% das capivaras capturadas faleceram.

Dessa maneira, O Ministério Pública Federal sentenciou que “a captura e a manutenção desses animais em cativeiro, sem um plano de manejo adequado, (…) antes de representar uma solução para um problema ambiental antigo, revela-se desencadeador de outro mais grave e imediato”.

Assim, foi revogada a liminar que impedia que os animais mantidos em cativeiro fossem soltos.

#1. O que é a Febre Maculosa?

A Febre Maculosa é uma doença potencialmente letal causada por uma bactéria transmitida pelo carrapato.

Foi descrita pela primeira vez no início do século 19 por Howard Ricketts. A infecção no ser humano tem um espectro que varia desde uma doença leve até mesmo fulminante.

#2. Como a bactéria age?

A Rickettsia rickettsii é uma bactéria capaz de invadir as células humanas com uma preferência pelas células que compõe os vasos sanguíneos.

Uma vez instalada, a bactéria pode levar a lesão direta e a inflamação dos vasos atingidos em diferentes órgãos.

Essa inflamação pode provocar extravasamento do plasma sanguíneo e ativação de sistemas de coagulação do sangue.

A coagulação, por sua vez, pode levar a oclusão dos vasos sanguíneos e contribuir para a falência de múltiplos órgãos.

Em um segundo momento, o consumo dos fatores de coagulação pode causar sangramento difuso. As manifestações hemorrágicas podem ser a primeira manifestação da doença notada.

#3. Como acontece a transmissão da doença?

A R. Rickettsii pode ser encontrada nas glândulas salivares e ovários dos carrapatos contaminados. O Amblyomma cajennense, mais conhecido como carrapato-estrela, é o principal agente transmissor encontrado no Brasil.

Seu hospedeiro preferencial é o cavalo. Entretanto, pode parasitar outros mamíferos, como o boi, carneiro, cabra, cão, porco, veado, capivara, cachorro do mato, coelho, cotia, quati, tatu e tamanduá.

Os carrapatos permanecem infectados por toda sua vida, em geral, de um ano e meio a 3 anos.

A transmissão pode ocorrer ao longo de todo o ano. Mas, o período de maior incidência vai de junho a setembro.

A Febre Maculosa é adquirida pela picada do carrapato infectado com a bactéria R. rickettsii. A transmissão ocorre quando o carrapato permanece aderido por um período geralmente maior que 4 a 6 horas.

Entretanto, a infecção pode se dar em períodos menores ou através do contato com fluidos do carrapato durante o processo de removê-lo da pele.

#4. Quais são os sintomas da doença?

Os sintomas se iniciam após 2 a 14 dias da picada do carrapato contaminado (média de 5 a 7 dias depois).

Os sintomas mais comuns são inespecíficos. Isso equivale a dizer que são sintomas comuns a várias outras doenças. Além disso, os sintomas tendem a se manifestar de maneira gradual, fatos que podem contribuir para o atraso no diagnóstico.

Nos casos sintomáticos, a febre está quase sempre presente, sendo muito frequentes também a dor de cabeça, dor no corpo, náuseas e mal-estar.

Entre o terceiro e o quinto dias de doença, surge, em 80% a 90% dos casos, manchas vermelhas na pele, que não coçam, inicialmente nos pulsos e tornozelos antes de generalizar para o restante do corpo.

As manchas se transformam em pequenos pontos de sangramento, característicamente, nas palmas das mãos e plantas dos pés.

Nas formas mais graves da doença, o paciente pode ter inchaço, aumento do fígado e do baço, insuficiência renal, icterícia (coloração amarela de pele e mucosas) e manifestações hemorrágicas com sangramentos digestivo, pulmonar e da pele.

As manifestações neurológicas incluem encefalite (inflamação do tecido cerebral) e déficit neurológico (como paralisias e convulsões).

#5. Como posso prevenir a picada do carrapato-estrela?

Fontes:

1. Prefeitura de Belo Horizonte – Febre Maculosa

2. Prefeitura de Belo Horizonte – Boletim da Vigilância em Saúde – Maio/2014

3. Prefeitura de Belo Horizonte – NOTA TÉCNICA Nº1 /2014

4. Clinical manifestations and diagnosis of Rocky Mountain spotted fever. Daniel J Sexton, Micah T McClain. UpToDate, 2016.

5. Secretaria de Saúde do Estado de Minas Gerais – Exame realizado pela FUNED confirma Febre Maculosa e Cuidados com carrapatos

6. Jornal Estado de Minas – Capivaras recolhidas da orla da Pampulha têm bactéria da febre maculosa

7. Jornal Estado de Minas – De 52 capivaras capturadas, apenas 14 voltam à orla da Lagoa da Pampulha

André Botinha

André Botinha

Pediatra especializado nos primeiros 1000 dias de vida, incluindo a gestação e os 2 primeiros anos.

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